No final de junho de 2009, foi iniciado o processo para eu conseguir a guarda provisória do João. Foi solicitada uma entrevista comigo e com a genitora, conduzida por uma psicóloga e uma assistente social, em um Fórum de São Paulo. O João teria que estar presente.
Nesta entrevista contei toda a nossa história. Estranhei a forma com que fui tratada onde, além da frieza, os questionamentos foram sempre realizados no sentido de que eu havia cometido um enorme erro. Entre as pouquíssimas perguntas relacionadas ao bem estar do João, queriam saber se ele havia ficado com alguma seqüela???? Quando abri meus braços para receber o João em minha vida, em nenhum momento tive essa preocupação já que, caso isso acontecesse, eu iria buscar toda a ajuda necessária para cuidar dele.
Saí da entrevista com a Assistente Social e Psicóloga me sentindo estraçalhada e, de forma simples, “judiada moralmente”. Ainda assim, pensei que esta metodologia de abordagem serviria para avaliar as minhas reais condições de cuidar do meu bebê. Nunca tive a intenção de prejudicar ninguém ou ferir interesses de terceiros.
A entrevista com a genitora foi realizada logo após a minha, sem que ela tivesse demonstrado qualquer interesse em conhecer o João que estava ali, disponível, a poucos passos do seu abraço.
Na semana seguinte, 01.07.2009, foi agendada uma audiência com um juiz no mesmo Fórum. A psicóloga solicitou que minha mãe comparecesse para fazer uma entrevista com a assistente social, pois, por eu ser solteira, seria necessário confirmar que eu tenho uma estrutura familiar. Além da minha mãe, foram convocadas diversas testemunhas, entre elas os médicos que cuidaram da genitora e fizeram o parto do João.
A genitora também compareceu a esta entrevista com a assistente social. Talvez, devido a minha formação como psicóloga, senti um tratamento diferenciado por parte da Assistente Social para com a genitora. Tudo bem, isso não é problema, já que temos a tendência (incluindo eu) a tratar as pessoas menos abonadas com maior deferência em casos como esses.
Enquanto aguardavam a audiência, as testemunhas relataram que a genitora novamente demonstrou pouco interesse pelo João, apesar de ele estar, novamente, disponível ao lado dela.
Uma mãe arrependida e com chance de ter seu filho novamente em seus braços perderia essa oportunidade? Uma mãe com sentimentos reais pela criança não choraria? Uma mãe ficaria deitada no banco do Fórum, descansando, enquanto seu filho aguarda acordado, por horas a fio, que sua situação com a justiça seja resolvida?
Para concluir essa primeira parte da história, relato os últimos acontecimentos: ambas as partes (mães e advogados) entraram na sala de audiência. A genitora num único ato, nunca antes enunciado, perante a Juíza informou interesse em ficar com o bebê, meu pequeno João. A Juíza, ao saber que a genitora não tem emprego, não tem casa (mora com parentes) e não tem sei lá o que, determinou que o João fosse imediatamente encaminhado para um abrigo de menores por 60 dias para avaliar as reais condições e interesse desta genitora em cuidar do seu filho. Caso isso não ocorra, ele será encaminhado para adoção.
A mim coube manter-me longe do João, entregando-o aos braços da justiça e, pelo gesto vil de ter lhe dado a vida, meu coração e minha vida, nunca mais procurá-lo.
Meu Deus, que justiça é essa?Meu Deus, como não chorar pelo meu bebê?
Meu Deus, nunca senti dor maior do que a de ter que entregar o meu João, as 21h de uma quinta-feira fria e chuvosa, aos braços da justiça.
Quem está cuidando do meu João?Ele está com frio?
Ele está com fome?
Alguém sabe os remédios que ele toma?
O leite que ele gosta?
As vacinas, alguém me perguntou quais ele tomou?
Meu Deus, que os anjos do céu estejam protegendo meu bebê.
Passaram-se 5 meses desde o começo desta história. O João, mais do que conta do meu coração, tomou conta da minha vida, da sua irmã Vitty e de toda nossa família.
A vida do João já está atrelada à nossa. Não existe felicidade sem ele ao nosso lado, sem seu sorriso, sem a sua presença em casa.
Meu filho, o que tenho que fazer para trazer você de volta?